1.
Teoria da Comunicação: Sua Atualidade e Pluralidade
Prof. Renato de Campos
A disciplina de Teoria da
Comunicação geralmente está inserida no tronco comum dos cursos de comunicação
social. Fato que possibilita sua presença nas várias habilitações de formação:
Jornalismo, Publicidade e Propaganda, Relações Públicas, Produção Audiovisual
entre outros.
Sua
inserção no tronco comum também ocasiona uma característica de diversas grades
curriculares: a disciplina de Teoria da Comunicação costuma ser oferecida nos
primeiros anos de vivência do aluno com o curso de Comunicação Social em nível
superior. A despeito de sua grande carga teórica, sua interdisciplinaridade e
necessidade de abstração conceitual o aluno passa por conseqüências desta
organização curricular.
Muitas vezes, por este
fato, a disciplina de Teoria da Comunicação gera grandes dificuldades e fortes
barreiras no aluno de graduação perante o conhecimento teórico e de pesquisa em
Comunicação.
Com estas premissas que
se enxerga a necessidade de pensar formas metodológicas e didáticas que chamem
a atenção deste aluno, recém chegado ao ensino superior, para a importância
inerente à disciplina de Teoria da Comunicação.
No momento primeiro de
apresentação do campo de estudos da Teoria da Comunicação cabe identificar o
próprio conceito de comunicação e seu objeto de estudo enquanto saber
científico.
Em uma simples busca no
dicionário pode-se encontrar diversas definições:
“1. Ato ou efeito de
comunicar. 2. Processo de emissão, transmissão e recepção de mensagens por meio
de métodos e/ou sistemas convencionados. 3. A mensagem recebida por esses
meios. 4. A capacidade de trocar ou discutir idéias, de dialogar, com vista ao
bom entendimento entre as pessoas” (FERREIRA, 2004, P.251).
Martino
(2001, p.15) tem a mesma percepção ao elencar diversas definições para o tema:
1.
Fato de comunicar, de estabelecer uma relação com alguém, com alguma coisa ou
entre coisas. 2. Transmissão de signos através de um código (natural ou
convencional). 3. Capacidade ou processo de troca de pensamentos, sentimentos,
idéias ou informações através da fala, gestos imagens, seja de forma direta ou
através de meios técnicos. 4. Ação de utilizar meios tecnológicos (comunicação
telefônica). 5. A mensagem, informação (a coisa que se comunica: anúncio,
novidade, informação, aviso...). 6. Comunicação de espaços (comunicação de um
lugar a outro), circulação, transporte de coisas. 7. Disciplina, saber, ciência
ou grupo de ciências.
Percebe-se uma grande
dificuldade (ou facilidade?) para definição do conceito de Comunicação advindo
do senso comum, da experiência do cotidiano “podemos dizer que definir
comunicação é um processo muito fácil, que se complica bastante se nos
afastarmos de nossa idéia intuitiva. O que parece inevitável a partir do momento
em que voltamos nossa atenção para o tema” (MARTINO, 2001, P.12). Neste sentido
ao questionar o que é Comunicação? Qual seu objetivo? França (2001, p.39)
apresenta o seguinte posicionamento:
A
resposta mais imediata à questão, trazida pela nossa vivência (ou senso comum),
vai resgatar – ou apoiar-se – na sua dimensão empírica: trata-se de um objeto
que está à nossa frente, disponível aos nossos sentidos, materializado em
objetos e práticas que podemos ver, ouvir e tocar. A comunicação tem uma
existência sensível; é do domínio do real, trata-se de um fato concreto de
nosso cotidiano, dotada de uma presença quase exaustiva na sociedade
contemporânea. Ela está ai nas bancas de revistas, na televisão da nossa casa,
no rádio dos carros, nos outdoors da cidade, nas campanhas dos candidatos
políticos e assim por diante. Se estendemos mais os exemplos, vamos incluir
nossas conversas cotidianas, as trocas simbólicas de toda ordem que povoam
nosso dia-a-dia.
Segundo
Barros (2002, p.10) há uma abordagem plural nos estudos de comunicação:
A
pesquisa em comunicação tem na pluralidade uma marca de sua identidade.
Pluralidade no que se refere a variedade de disciplinas chamadas a dar suporte
ao seu exercício. Pluralidade no que se refere ao confronto de diferentes modelos
de estudo, de diferentes compostos teóricos e metodológicos. Pluralidade no que
se refere a diferentes dimensões e elementos constitutivos dos fenômenos
comunicacionais, que demandam procedimentos e entendimentos diversos.
Pluralidade, ainda, nas múltiplas concepções epistemológicas assumidas pelos
pesquisadores da área, envolvendo motivações diversas em relação ao
empreendimento investigativo.
Apesar de vários
posicionamentos e definições, apesar de sua abordagem plural, pode-se fazer um
exercício, na tentativa de agrupamento destas definições em dois grandes focos.
Uma espécie de conceito macro ou global para o significado da Comunicação.
Pode-se agrupar em duas ênfases ou concepções, a saber: transmitir ou
compartilhar.
Assim, a Comunicação com
ênfase no transmitir engloba o ato ou ação de transmitir algo a alguém, a
informação, os procedimentos onde uma mente tenta afetar a outra. Já a
Comunicação na concepção de compartilhar agrupa definições a partir da troca,
participação, interação e a presença de interlocutores. Bordenave (1982, p.36)
apresenta uma definição para o ato de comunicar muito próxima à noção de
compartilhar: “Serve para que as pessoas se relacionem entre si,
transformando-se mutuamente e a realidade que as rodeia” e neste sentido continua:
“Sem a comunicação cada pessoa seria um mundo fechado em si mesmo. Pela
comunicação as pessoas compartilham experiências, idéias e sentimentos” (Idem).
Este simples exercício de
agrupamento pode demonstrar ao aluno uma justificativa para o grande número de
correntes teóricas que estudam e se posicionam perante o processo de
Comunicação.
Basta notar a
diferenciação entre os termos: enquanto a concepção de compartilhar
apresenta-se mais participativa e democrática, a ênfase no transmitir parece
mais autoritária, impositiva, manipulativa.
A própria visão do
receptor do processo de Comunicação muda diante estas duas concepções. A ênfase
no transmitir vê o receptor como mero receptáculo, um depositário das
informações de carga ideológica a ser manipulado pelo emissor. A concepção de
compartilhar parte para um receptor fruidor do processo de Comunicação.
Um indivíduo que filtra,
interpreta e participa. Emissor e receptor nesta concepção podem ser
aproximados, como interlocutores. A carga manipulativa, ou ideológica, nesta
concepção, é muito menor, pois há um processo de interpretação e posicionamento
por parte o receptor. A variedade de definições, conceitos ou concepções,
apresentadas até o momento para a Comunicação mostra que a sua pesquisa é uma
árdua tarefa. A aproximação de uma concepção ou outra, as diversas abordagens
teóricas do processo acabaram por criar várias correntes teóricas que estudaram
ou estudam a problemática da Comunicação a partir de meados do século XX.
A proximidade, em termos
temporais, da pesquisa teórica em Comunicação se dá pelo fato da inserção dos
veículos de Comunicação de massa na sociedade e sua evolução para uma forte
presença midiática. Quando, durante o século XX constatou a importância
econômica, social, política e ideológica do fenômeno comunicacional é que os
estudos teóricos na área ganharam força.
É neste ponto que se
afasta dos conceitos de Comunicação advindos do senso comum. A Comunicação que
aqui se estuda é aquela que acontece a partir da presença dos meios de comunicação
de massa na sociedade. Luís Costa Lima (1990), na introdução de seu livro
Teoria da Cultura de Massa, faz um exercício para localizar os elementos que
compõem a questão da Comunicação massiva. Assim, o processo de comunicação de
massa apenas se instituiu na sociedade contemporânea a partir do momento que
três fatores preponderantes se associaram: “(a) base tecnológica; (b) sistema
social que a utiliza; (c) cultura de massa” (LIMA, 1990, p.44).
O primeiro fator é a
presença da tecnologia que evoluiu na área da Comunicação de massa culminando
com a constituição dos meios de Comunicação, tal qual os conhecemos hoje. O
outro elemento destacado por Lima é a própria evolução do sistema capitalista,
o qual atingiu o paradigma da sociedade de consumo, ou seja, um espaço onde os
indivíduos se posicionam ansiosos pelo consumo de informações e entretenimento.
Porém, estes dois itens não são suficientes para que já aconteça um
entendimento do fenômeno da Comunicação de massa, segundo Lima (1990, p. 39):
“Não bastou, portanto, a arrancada do sistema capitalista, o incremento da
velocidade da comunicação, o aparecimento dos primeiros meios de reprodução
técnica e a baixo preço para que já se desse a cultura de massa”. Necessário se
faz: “a integração inconsciente de suas mensagens numa modalidade de cultura”
(Idem).
Neste sentido, talvez o
elemento principal, mas também em interação intrínseca aos outros dois
apresenta-se a questão da cultura de massa, que constitui o amalgama dentre os itens
que compõem a comunicação de massa, pois este é o fator que consciente ou
inconscientemente liga o indivíduo a este modo de vida.
A partir da presença
destes três elementos evidenciados por Lima (1990) é que se pode pensar na
organização social contemporânea, na qual a presença dos veículos de
comunicação de massa exerce influência preponderante. Este fato é circunscrito,
portanto, ao século XX e, justamente no início deste período, é que se percebe
a origem dos estudos de Teoria da Comunicação. “Os mass media não existiram em algumas ou em várias sociedades, porém,
originariamente, só na Ocidental e, dentro desta, seu pleno aparecimento só se
dá no século em curso”(Idem, p.21).
A abordagem dada por Luiz Costa Lima deixa de vislumbrar as
características e processos inerentes aos mass media no século XXI, porém, não
é por isso, defasada. Pelo contrário, o modelo apresentado pelo autor em 1990
apenas teve seu processo acentuado na atualidade.
As
novas tecnologias de comunicação apresentam-se como uma das bases que
possibilitam ao ser humano o fenômeno da globalização. Tais tecnologias
decorrem do processo de digitalização e convergência das mídias para um suporte
computadorizado que, por sua vez, desempenha um papel preponderante nas
comunicações globais. Mais explicitamente pode-se citar a internet, a televisão
digital, a telefonia celular e a possibilidade de transmissão via satélite e
fibras óticas. Claro está o papel preponderante destas novas tecnologias dentro
deste processo (CAMPOS, 2006, p.140).
Para o entendimento da disciplina propõe-se aqui um
exercício de resgate das principais correntes teóricas que hoje compõem a
Teoria da Comunicação.
Referências
Bibliográficas
BARROS, Laan Mendes de. Comunicação: Uma Abordagem
Plural. Communicare: Revista de
Pesquisa / Centro Interdisciplinar de Pesquisa, Faculdade de Comunicação Social
Cásper Líbero. V.2, nº2 (2002). São Paulo: FCSCL, 2002, pp.09/16.
CAMPOS, Renato Márcio Martins de. Teorias da
Comunicação: as correntes teóricas no estudo da comunicação de massa. Revista Uniara. N° 19. Araraquara:
Uniara, 2006, pp. 139/152.
BORDENAVE, Juan E. Diaz. O que é Comunicação. São Paulo:
Brasiliense, 1982.
FERREIRA, a. Buarque de
Holanda. Miniaurélio. Curitiba:
Positivo, 2004.
FRANÇA, Vera Veiga. Teorias da Comunicação: Conceitos, Escolas e Tendências. Rio de
Janeiro: Vozes, 2001.
LIMA, Luiz Costa. Teoria da Cultura de Massa. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1990.
MARTINO, Luiz C. Teorias
da Comunicação: Conceitos, Escolas e Tendências. Rio de Janeiro: Vozes,
2001.
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