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terça-feira, 6 de março de 2012

1. Teoria da Comunicação: Sua Atualidade e Pluralidade


1. Teoria da Comunicação: Sua Atualidade e Pluralidade
Prof. Renato de Campos
A disciplina de Teoria da Comunicação geralmente está inserida no tronco comum dos cursos de comunicação social. Fato que possibilita sua presença nas várias habilitações de formação: Jornalismo, Publicidade e Propaganda, Relações Públicas, Produção Audiovisual entre outros.
Sua inserção no tronco comum também ocasiona uma característica de diversas grades curriculares: a disciplina de Teoria da Comunicação costuma ser oferecida nos primeiros anos de vivência do aluno com o curso de Comunicação Social em nível superior. A despeito de sua grande carga teórica, sua interdisciplinaridade e necessidade de abstração conceitual o aluno passa por conseqüências desta organização curricular.
Muitas vezes, por este fato, a disciplina de Teoria da Comunicação gera grandes dificuldades e fortes barreiras no aluno de graduação perante o conhecimento teórico e de pesquisa em Comunicação.
Com estas premissas que se enxerga a necessidade de pensar formas metodológicas e didáticas que chamem a atenção deste aluno, recém chegado ao ensino superior, para a importância inerente à disciplina de Teoria da Comunicação.
No momento primeiro de apresentação do campo de estudos da Teoria da Comunicação cabe identificar o próprio conceito de comunicação e seu objeto de estudo enquanto saber científico.
Em uma simples busca no dicionário pode-se encontrar diversas definições:
“1. Ato ou efeito de comunicar. 2. Processo de emissão, transmissão e recepção de mensagens por meio de métodos e/ou sistemas convencionados. 3. A mensagem recebida por esses meios. 4. A capacidade de trocar ou discutir idéias, de dialogar, com vista ao bom entendimento entre as pessoas” (FERREIRA, 2004, P.251).
Martino (2001, p.15) tem a mesma percepção ao elencar diversas definições para o tema:
1. Fato de comunicar, de estabelecer uma relação com alguém, com alguma coisa ou entre coisas. 2. Transmissão de signos através de um código (natural ou convencional). 3. Capacidade ou processo de troca de pensamentos, sentimentos, idéias ou informações através da fala, gestos imagens, seja de forma direta ou através de meios técnicos. 4. Ação de utilizar meios tecnológicos (comunicação telefônica). 5. A mensagem, informação (a coisa que se comunica: anúncio, novidade, informação, aviso...). 6. Comunicação de espaços (comunicação de um lugar a outro), circulação, transporte de coisas. 7. Disciplina, saber, ciência ou grupo de ciências.

Percebe-se uma grande dificuldade (ou facilidade?) para definição do conceito de Comunicação advindo do senso comum, da experiência do cotidiano “podemos dizer que definir comunicação é um processo muito fácil, que se complica bastante se nos afastarmos de nossa idéia intuitiva. O que parece inevitável a partir do momento em que voltamos nossa atenção para o tema” (MARTINO, 2001, P.12). Neste sentido ao questionar o que é Comunicação? Qual seu objetivo? França (2001, p.39) apresenta o seguinte posicionamento:
A resposta mais imediata à questão, trazida pela nossa vivência (ou senso comum), vai resgatar – ou apoiar-se – na sua dimensão empírica: trata-se de um objeto que está à nossa frente, disponível aos nossos sentidos, materializado em objetos e práticas que podemos ver, ouvir e tocar. A comunicação tem uma existência sensível; é do domínio do real, trata-se de um fato concreto de nosso cotidiano, dotada de uma presença quase exaustiva na sociedade contemporânea. Ela está ai nas bancas de revistas, na televisão da nossa casa, no rádio dos carros, nos outdoors da cidade, nas campanhas dos candidatos políticos e assim por diante. Se estendemos mais os exemplos, vamos incluir nossas conversas cotidianas, as trocas simbólicas de toda ordem que povoam nosso dia-a-dia.

Segundo Barros (2002, p.10) há uma abordagem plural nos estudos de comunicação:
A pesquisa em comunicação tem na pluralidade uma marca de sua identidade. Pluralidade no que se refere a variedade de disciplinas chamadas a dar suporte ao seu exercício. Pluralidade no que se refere ao confronto de diferentes modelos de estudo, de diferentes compostos teóricos e metodológicos. Pluralidade no que se refere a diferentes dimensões e elementos constitutivos dos fenômenos comunicacionais, que demandam procedimentos e entendimentos diversos. Pluralidade, ainda, nas múltiplas concepções epistemológicas assumidas pelos pesquisadores da área, envolvendo motivações diversas em relação ao empreendimento investigativo.

Apesar de vários posicionamentos e definições, apesar de sua abordagem plural, pode-se fazer um exercício, na tentativa de agrupamento destas definições em dois grandes focos. Uma espécie de conceito macro ou global para o significado da Comunicação. Pode-se agrupar em duas ênfases ou concepções, a saber: transmitir ou compartilhar.
Assim, a Comunicação com ênfase no transmitir engloba o ato ou ação de transmitir algo a alguém, a informação, os procedimentos onde uma mente tenta afetar a outra. Já a Comunicação na concepção de compartilhar agrupa definições a partir da troca, participação, interação e a presença de interlocutores. Bordenave (1982, p.36) apresenta uma definição para o ato de comunicar muito próxima à noção de compartilhar: “Serve para que as pessoas se relacionem entre si, transformando-se mutuamente e a realidade que as rodeia” e neste sentido continua: “Sem a comunicação cada pessoa seria um mundo fechado em si mesmo. Pela comunicação as pessoas compartilham experiências, idéias e sentimentos” (Idem).
Este simples exercício de agrupamento pode demonstrar ao aluno uma justificativa para o grande número de correntes teóricas que estudam e se posicionam perante o processo de Comunicação.
Basta notar a diferenciação entre os termos: enquanto a concepção de compartilhar apresenta-se mais participativa e democrática, a ênfase no transmitir parece mais autoritária, impositiva, manipulativa.
A própria visão do receptor do processo de Comunicação muda diante estas duas concepções. A ênfase no transmitir vê o receptor como mero receptáculo, um depositário das informações de carga ideológica a ser manipulado pelo emissor. A concepção de compartilhar parte para um receptor fruidor do processo de Comunicação.
Um indivíduo que filtra, interpreta e participa. Emissor e receptor nesta concepção podem ser aproximados, como interlocutores. A carga manipulativa, ou ideológica, nesta concepção, é muito menor, pois há um processo de interpretação e posicionamento por parte o receptor. A variedade de definições, conceitos ou concepções, apresentadas até o momento para a Comunicação mostra que a sua pesquisa é uma árdua tarefa. A aproximação de uma concepção ou outra, as diversas abordagens teóricas do processo acabaram por criar várias correntes teóricas que estudaram ou estudam a problemática da Comunicação a partir de meados do século XX.
A proximidade, em termos temporais, da pesquisa teórica em Comunicação se dá pelo fato da inserção dos veículos de Comunicação de massa na sociedade e sua evolução para uma forte presença midiática. Quando, durante o século XX constatou a importância econômica, social, política e ideológica do fenômeno comunicacional é que os estudos teóricos na área ganharam força.
É neste ponto que se afasta dos conceitos de Comunicação advindos do senso comum. A Comunicação que aqui se estuda é aquela que acontece a partir da presença dos meios de comunicação de massa na sociedade. Luís Costa Lima (1990), na introdução de seu livro Teoria da Cultura de Massa, faz um exercício para localizar os elementos que compõem a questão da Comunicação massiva. Assim, o processo de comunicação de massa apenas se instituiu na sociedade contemporânea a partir do momento que três fatores preponderantes se associaram: “(a) base tecnológica; (b) sistema social que a utiliza; (c) cultura de massa” (LIMA, 1990, p.44).
O primeiro fator é a presença da tecnologia que evoluiu na área da Comunicação de massa culminando com a constituição dos meios de Comunicação, tal qual os conhecemos hoje. O outro elemento destacado por Lima é a própria evolução do sistema capitalista, o qual atingiu o paradigma da sociedade de consumo, ou seja, um espaço onde os indivíduos se posicionam ansiosos pelo consumo de informações e entretenimento. Porém, estes dois itens não são suficientes para que já aconteça um entendimento do fenômeno da Comunicação de massa, segundo Lima (1990, p. 39): “Não bastou, portanto, a arrancada do sistema capitalista, o incremento da velocidade da comunicação, o aparecimento dos primeiros meios de reprodução técnica e a baixo preço para que já se desse a cultura de massa”. Necessário se faz: “a integração inconsciente de suas mensagens numa modalidade de cultura” (Idem).
Neste sentido, talvez o elemento principal, mas também em interação intrínseca aos outros dois apresenta-se a questão da cultura de massa, que constitui o amalgama dentre os itens que compõem a comunicação de massa, pois este é o fator que consciente ou inconscientemente liga o indivíduo a este modo de vida.
A partir da presença destes três elementos evidenciados por Lima (1990) é que se pode pensar na organização social contemporânea, na qual a presença dos veículos de comunicação de massa exerce influência preponderante. Este fato é circunscrito, portanto, ao século XX e, justamente no início deste período, é que se percebe a origem dos estudos de Teoria da Comunicação. “Os mass media não existiram em algumas ou em várias sociedades, porém, originariamente, só na Ocidental e, dentro desta, seu pleno aparecimento só se dá no século em curso”(Idem, p.21).
A abordagem dada por Luiz Costa Lima deixa de vislumbrar as características e processos inerentes aos mass media no século XXI, porém, não é por isso, defasada. Pelo contrário, o modelo apresentado pelo autor em 1990 apenas teve seu processo acentuado na atualidade.
As novas tecnologias de comunicação apresentam-se como uma das bases que possibilitam ao ser humano o fenômeno da globalização. Tais tecnologias decorrem do processo de digitalização e convergência das mídias para um suporte computadorizado que, por sua vez, desempenha um papel preponderante nas comunicações globais. Mais explicitamente pode-se citar a internet, a televisão digital, a telefonia celular e a possibilidade de transmissão via satélite e fibras óticas. Claro está o papel preponderante destas novas tecnologias dentro deste processo (CAMPOS, 2006, p.140).

Para o entendimento da disciplina propõe-se aqui um exercício de resgate das principais correntes teóricas que hoje compõem a Teoria da Comunicação.

Referências Bibliográficas

BARROS, Laan Mendes de. Comunicação: Uma Abordagem Plural. Communicare: Revista de Pesquisa / Centro Interdisciplinar de Pesquisa, Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero. V.2, nº2 (2002). São Paulo: FCSCL, 2002, pp.09/16.

CAMPOS, Renato Márcio Martins de. Teorias da Comunicação: as correntes teóricas no estudo da comunicação de massa. Revista Uniara. N° 19. Araraquara: Uniara, 2006, pp. 139/152.

BORDENAVE, Juan E. Diaz. O que é Comunicação. São Paulo: Brasiliense, 1982.

FERREIRA, a. Buarque de Holanda. Miniaurélio. Curitiba: Positivo, 2004.

FRANÇA, Vera Veiga. Teorias da Comunicação: Conceitos, Escolas e Tendências. Rio de Janeiro: Vozes, 2001.

LIMA, Luiz Costa. Teoria da Cultura de Massa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990.

MARTINO, Luiz C. Teorias da Comunicação: Conceitos, Escolas e Tendências. Rio de Janeiro: Vozes, 2001.

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